Prêmio Jabuti desclassifica Reedição de Frankenstein por uso de Inteligência Artificial

Prêmio Jabuti desclassifica Reedição de Frankenstein por uso de Inteligência Artificial

Nem toda a inovação deve ser exaltada. Esse foi o posicionamento recente da Câmara Brasileira do Livro (CLB), instituição responsável pela organização do Prêmio Jabuti. Depois de anunciar a reedição do clássico Frankenstein, elaborado com auxílio da Inteligência Artificial (IA), entre os indicados de melhor Ilustração de 2023, a organização recebeu uma série de críticas sobre legitimidade de ter uma arte produzida por computadores entre seus finalistas e desclassificou a obra de Vicente Pessôa.   

De acordo com a Curadoria da premiação, que é convocada para arbitrar casos fora do regulamento, a Inteligência Artificial, assim como outras tecnologias inovadoras, ainda deve ser absorvida pelo mercado para ser avaliada pelos jurados. “Considerando a nova realidade de avanços dessas novas tecnologias, a organização do prêmio esclarece que a utilização dessas novas ferramentas será objeto de discussão para as próximas edições da premiação", afirma a nota da CLB.

Publicada em 2022, a reedição da obra de Mary Shelley faz parte do acervo do selo Clube de Literatura Clássica. Diferentemente de outras produções da editora, as ilustrações de Pessôa foram elaboradas com ajuda do MidJourney, software de Inteligência Artificial especializado em arte digital. Por meio da plataforma, um usuário pode criar ilustrações a partir de descrições precisas e da inserção de referências gráficas, como quadros.

No caso do designer, para ilustrar o livro foram criadas mais de 1.200 imagens únicas antes de consolidar as 50 finais. No entender de Pessôa, seu trabalho é fundamentalmente humano, porque utiliza a ferramenta de IA da mesma forma que fotógrafos utilizam o Photoshop para refinar seu trabalho.

Inteligência Artificial e arte: afinal, quem é o artista?

“A maioria das críticas não se apoiava em questões estéticas. Mas eu já esperava ser desclassificado. É sempre assim. Quando surgiu a fotografia, os pintores disseram que era uma arte menor, que iam ficar sem trabalho. Quando alguém sai na frente, os atrasados. Acho um desperdício meus colegas não usarem IA. Ou será que usam e não assumem?”, diz Pessôa em uma entrevista ao jornal O Globo. O designer não pretende contestar a decisão da CLB, embora acredite que sua desclassificação se deve por críticas do Prêmio.

Ainda assim, Pessôa acredita que o episódio pode ser um marco para o mercado editorial. “Para mim, é um prêmio [o corte da premiação]. O novo é sempre recebido com ódio e crítico. Se inventarem um troféu para ilustrações feitas por IA, o que eu acho que seria muito esquisito, poderia chamar Prêmio Frankenstein, em homenagem ao nosso projeto”, explica.

Para além das ilustrações gráficas, existe uma grande discussão sobre a legitimidade sobre o uso da Inteligência Artificial para a produção de artes. Alguns especialistas como Jessé Souza, acreditam que as produções realizadas por algoritmos não realizam nada de novo, tendo em vista que apenas “copiam” acervos disponíveis na Web.  Já para outras autoridades do mundo acadêmico, a exemplo do livre docente de Machine Learning em Saúde pela USP, Alexandre Chiavegatto Filho, a democratização de ferramentas como MidJourney potencializará a criatividade humana para além das fronteiras da arte humana. Segundo o docente, a obra de Pessôa é uma solução duplamente criativa: não só representa o domínio do código como também simboliza a possibilidade de criar uma estética singular.