40% dos postos de trabalho globais podem ser impactados pela IA, estima ONU

Foto: © UN Photo/Cia Pak

A inteligência artificial (IA) se tornou o novo motor econômico do mundo, criando oportunidades e aprofundando desigualdades na mesma proporção. Essa é a conclusão do relatório recente do departamento de Comércio e Desenvolvimento da ONU (UNCTAD), o qual afirma na mesma medida que a IA irá revolucionar o mercado, automatizando tarefas e impulsionando a produtividade, a tecnologia também será responsável mudar a dinâmica de cerca de 40% dos empregos no mundo inteiro. 

Diferentemente de outras ondas de inovação, em que o trabalho manual e pouco especializado era substituído por máquinas, robôs e outros instrumentos industriais, a revolução da IA afeta postos de profissionais com maior qualificação no mercado cujos empregos poderiam ser automatizados pela IA generativa (GenAI), Aprendizado de Máquina (ML) e outros recursos ligados à tecnologia. Por outro lado, complementa o UNCTAD, a consolidação da disciplina também é vitrine para novas oportunidades de trabalho, embora requeira investimento em treinamentos e cursos de readaptação. 

Ainda segundo a organização, os países mais sensíveis à substituição de mão de obra são aqueles com economias agrícolas e extrativistas cujo mercado de trabalho é pouco desenvolvido para as novas demandas de tecnologia. Por outro lado, países como Brasil, Índia, China e Filipinas vêm apresentando resultados surpreendentes na preparação de suas infraestruturas para acomodar a IA em suas cadeias produtivas, seja por meio de investimentos governamentais ou por meio de incentivos privados. 

Na avaliação da secretária-geral do UNCTAD, Rebeca Grynspan, o melhor caminho para potencializar a tecnologia é criar uma rede de cooperação internacional entre nações, "desviar a atenção da tecnologia para as pessoas, permitindo aos países criarem conjuntamente um marco mundial de inteligência artificial. A história demonstra que, embora o avanço tecnológico seja o motor do crescimento, por si só não pode garantir uma distribuição equitativa da renda, nem promover um desenvolvimento humano inclusivo”, afirmou em nota. 

Um mercado trilionário, mas para quem? 

 Outro destaque do relatório é a respeito do impacto econômico da nova onda de tecnologias no cenário global, como Internet das Coisas, BlockChain e as centenas de modalidades de IA. Até 2033, o valor de mercado dessas inovações será multiplicado por seis, passando de US$ 2,5 trilhões para US$ 16,4 trilhões de dólares (aproximadamente R$ 96 trilhões, na cotação atual). Ainda que a cifra seja muito expressiva e represente um novo paradigma para negócios, a ONU alerta que os benefícios tecnológicos não serão divididos igualmente entre as nações.

Para se ter uma ideia da concentração dos benefícios para certos nichos, o relatório estima que apenas 100 corporações, entre elas Big Techs e escritórios especializados em inovação na China e nos Estados Unidos são responsáveis por 40% dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento para essas e novas tecnologias. Em outras palavras, é mais provável que os frutos dessas aplicações fiquem nos países de origem por questões territoriais, culturais e linguísticas, aprofundando ainda mais o abismo entre o Norte e o Sul Global. 

"À medida que a regulação da IA e os marcos éticos tomam forma, os países em desenvolvimento devem ter um lugar na mesa para garantir que a IA sirva ao progresso global, não só aos interesses de alguns poucos. Investir em reciclagem, melhoria das qualificações e adaptação da mão de obra é essencial para garantir que a IA melhore as oportunidades de emprego ao invés de eliminá-las”, concluiu Grynspan.