Digitalização de empresas impulsionou golpes digitais no último ano, apontam pesquisas
Estudo da PwC e um levantamento da Kaspersky indicam uma evolução dos ciberataques praticados em empresas e pessoas físicas

A pandemia foi um divisor de águas para o mundo contemporâneo. Não apenas redefiniu prioridades políticas e sociais para o investimento de recursos com saúde e infraestrutura, como também trouxe mudanças significativas na forma de pensar e fazer negócios. Segundo um levantamento da Fundação Getulio Vargas (FGV), o período acelerou o processo de digitalização e trouxe maturidade para a maior parte de pequenos e médios negócios; por outro lado, o crescimento da presença digital de empresas e pessoas físicas também aumentou a exposição a golpes digitais.
Segundo o Boletim de Segurança da Kaspersky (KSB), empresa global de cibersegurança e privacidade digital, no ano passado foram detectados mais de 467 mil arquivos maliciosos por dia, um aumento de 14% no comparativo ao ano anterior. No relatório, a organização mostra que os ataques digitais vêm crescendo em um ritmo acelerado entre 2021 e 2024, em especial os trojans, programas maliciosos que se disfarçam de software legítimo e os Trojan-droppers, recursos criados para instalar outro malware no computador ou aparelho da vítima sem que ela perceba. Este último apresentou um crescimento de 150% de detecções no período 2023-2024.
Na avaliação de Fabio Assolini, diretor da Equipe Global de Pesquisa e Análise da Kaspersky para a América Latina, o aprimoramento de malwares e ciberataques é por vezes mais ágil do que o desenvolvimento de políticas de segurança que merecem revisões periódicas. “O número de novas ameaças aumenta todos os anos pois cibercriminosos continuam desenvolvendo golpes, técnicas e métodos para atacar usuários e organizações. Em 2024 não foi exceção, houve campanhas maliciosas e de phishing visando usuários de redes sociais e um aumento no malware direcionado a sistemas bancários. E, claro, o uso de ferramentas de IA para gerar novo malware ou promover ataques de phishing. Nesse cenário dinâmico de ciberameaças, o uso de soluções de segurança confiáveis é [cada vez mais] fundamental”, disse.
Ataques digitais geram perdas milionárias no Brasil e no mundo
Além de trazer insegurança para os processos diários e práticas corporativas em todo mundo, o roubo de dados sigilosos e informações sensíveis provocam prejuízos de faturamento em organizações. De acordo com a pesquisa Digital Trust Insights, realizada pela PwC, nos últimos três anos, os danos globais por ciberataques atingiram US$ 3,3 milhões; no Brasil a cifra chega perto de US$ 1 US$ milhão no mesmo período.
Aplicada em quatro mil organizações, espalhadas por 77 países, a pesquisa revela que apenas 2% das empresas investem em programas de cibersegurança e proteção de dados. Ainda segundo o estudo, menos da metade dos tomadores de decisões ouvidos medem os riscos de ciberataques e somente 15% avaliam o impacto financeiro de ações maliciosas. Em tempo, para 65% das lideranças de tecnologia brasileiras, a criação de programas e políticas de mitigação de danos segue como essencial para mitigar riscos digitais e ameaças cibernéticas.
Para Eduardo Batista, sócio e líder de Cibersegurança e Privacidade da PwC Brasil, a segurança digital deve ser encarada como uma estratégia corporativa. “Investir na mensuração do risco cibernético e na resiliência é essencial para proteger os ativos e fortalecer a confiança no ecossistema digital. A nossa pesquisa indica o quanto as empresas ainda precisam avançar na adoção de práticas robustas de gestão de risco”, afirmou.
Em outro ponto, a pesquisa destaca que a inteligência artificial apresenta um papel ambíguo no combate a ciberataques. Se, de um lado, as ferramentas de IA possibilitam detectar e combater ameaças digitais com mais precisão, por outro, o uso da IA aumenta a superfície de ataques, principalmente por meio de malwares presentes na base de dados de algoritmos.
Segundo Batista, a solução é criar uma estratégia que mensure os riscos e encontre caminhos a médio e longo prazo. “Embora a IA traga desafios, as empresas que integram essa tecnologia de maneira responsável estão mais preparadas para enfrentar os riscos. A chave está em alinhar governança, inovação e segurança”, finalizou.
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